domingo, 2 de novembro de 2014

Vestindo a camiseta...


Depois do turismo de bike, retornávamos para o hotel a fim de nos prepararmos para voltar a Porto Alegre. Ao cruzarmos a Praça da República, nos deparamos com uma infinidade de barracas vendendo artesanato, confecções de produção caseira e obras de arte, como quadros e esculturas. A Iara não resistiu à tentação de procurar algo diferente para presentear os netos, e encontramos o Walter, um produtor de camisetas com estampas bem legais. Mas o Walter era mais legal que suas camisetas: tinha um sorriso permanente e um disposição de ajudar quem o procurava, sugerindo produtos e recomendando às pessoas onde encontrar o que não tinha. Estava naquele local há trinta anos e não tinha a menor vontade de parar. Se não tivéssemos uma viagem nos aguardando, seguramente teríamos dedicado mais tempo a esse prazeroso encontro.

City tour de bike



Nosso último dia em Sampa nos reservava uma atividade incomum. Nos inscrevemos, três semanas antes, em um passeio de bicicleta, proporcionado por uma parceria entre a prefeitura e o Bike Tour SP, patrocinado pelo Banco Bradesco. Uma iniciativa simplesmente surpreendente, que existe há um ano e meio: o serviço oferece uma bicicleta em excelentes condições, capacete, água mineral, colete de identificação, guia e apoio. 


O diferencial são os cuidados adicionais: uma touca cirúrgica descartável para colocar antes do capacete, protegendo os cabelos, e um par de auriculares, fones de ouvido sintonizados na frequência do microfone encaixado no capacete da guia, acompanhados de um pequeno lenço descartável umedecido com álcool para higienização antes do uso. 


O grupo, composto por 14 ciclistas, circula pelas ciclovias do centro de São Paulo, parando em diversos pontos turísticos predeterminados. Nestes locais os integrantes ligam os fones e ouvem as informações do guia. Simples, prático, lúdico e muito educativo. No nosso grupo, somente eu e a Iara éramos turistas, todos os outros eram moradores interessados em conhecer melhor sua cidade. 


Não raras vezes ouvíamos frases como "Cansei de passar por aqui e nunca percebi isso!" Claro que a iniciativa é individual, de um sonhador que criou o projeto e foi em busca de sua realização. Conheça mais em www.facebook.com/BikeTourSp

     

sábado, 1 de novembro de 2014

Os Monges do Mosteiro




A Igreja do Mosteiro de São Bento é uma coisa. Há um aviso grande e bem claro na porta da entrada: não filme, não fotografe, não fale alto. Melhor nem respirar. Entre, levante a cabeça, abra os olhos e feche a boca (sim, você está de boca aberta!). Sua arquitetura é imponente, mas limpa. Seu interior é clássico e bem elaborado, arte de altíssima qualidade, mas sem nenhuma ostentação, alinhado com o conceito beneditino de simplicidade. As naves laterais convidam à meditação e à introspecção. Caminhe devagar, não faça barulho, há pessoas orando por toda a parte e você percebe um sentimento único: respeito. Ao longe, pode-se ouvir um monge, guiando um rosário com algumas pessoas. Uma porta enorme à sua esquerda, escura e entalhada com esmero, chama a atenção. No centro, em grandes letras, está escrito CLAUSURA. Aos sábados às 17h30min em ponto a porta se abre e entram, em procissão, os monges do mosteiro. 


São mais de vinte, a grande maioria jovem, menos de trinta anos. Assumem seus lugares nas laterais do altar e então começa uma sessão de canto gregoriano, acompanhado pelo enorme órgão instalado na galeria, que dura exatamente trinta minutos, antes da missa. Aos domingos, cantam durante a missa das 10h00min. 


Não esqueça do lenço: você vai chorar. A música, o local, a atmosfera, tudo contribui para uma espécie de busca da perfeição. Não há nenhuma amplificação, a sonoridade é perfeita, a vocalização compreensível, numa canção monocórdia de arrepiar um ateu. Poucos gestos, contidos, restritos ao necessário. Rápidos e silenciosos como entraram, eles vão embora, sem olhar para os lados nem encarar ninguém. Sua vontade é bater palmas, assoviar, gritar uuhuu!, depois de tudo que viu e ouviu. Só o que consegue é um profundo e respeitoso silêncio. E uma sensação indescritível de que talvez seja o mais próximo de Deus que conseguimos chegar, levados por eles. Faça o seguinte: ajoelhe e agradeça. É o mínimo.

Museu da Língua Portuguesa


O Museu da Língua Portuguesa só poderia ser em São Paulo, a cidade que tem a maior população de falantes do português no mundo. Tem uma ala para exposições temporárias, um auditório e sala de aula para 50 pessoas. Mas o grande barato do museu são suas áreas interativas: uma tela de 106m de extensão com projeções simultâneas de filmes que mostram a Língua Portuguesa no cotidiano e na história de seus usuários; jogos de palavras cruzadas; uma Linha do Tempo onde o visitante poderá conhecer melhor a história da Língua Portuguesa, além de outras atrações como os painéis com a história do edifício sede da Estação da Luz, onde se encontra o museu. Aos sábados, o ingresso é gratuito, nos outros dias custa U$ 2,50. Não perca essa visita, vale a pena!

E fez-se a Luz!


Aberta ao público em 1901, a Estação da Luz fica no Jardim da Luz, onde se encontram as estruturas trazidas da Inglaterra que copiam o Big Ben e a Abadia de Westminster: sim, a galera da época copiou os ícones ingleses! A fase áurea da São Paulo Railway Station - como era oficialmente conhecida, que chique! -  durou até o fim da Segunda Guerra Mundial. Parcialmente destruída por um incêndio em 1946, foi reinaugurada em 1951. Em 1982 o complexo arquitetônico da Estação da Luz foi tombado pelo Patrimônio Histórico.

Essa pequena descrição não dá ideia da grandiosidade do movimento da estação: interligando linhas de metrô e trem, uma estação praticamente vazia transforma-se num mar de gente em segundos.


É um vai-e-vem alucinado: pessoas correndo pressionadas pelo horário, travestis aguardando potenciais "clientes", pedintes, ensaios fotográficos com modelos deslumbrantes no meio do rush - e ninguém dá bola! - fazem parte do cenário. 


No saguão principal há um piano, disponível para quem quiser tocar. Um senhor de aparência humilde senta-se ao piano e começa a dedilhar um pequeno solfejo, com apenas dois dedos. Alguém para, elogia e incentiva. Ele explica que aprendeu o que sabe ali, "de ouvido". Os dois dedos calejados continuam a bater nas teclas... 


De repente, surge um artista, pedindo para desenhar a Iara, por cinco reais, em quatro minutos. Diz que precisa de dinheiro para pegar o trem e é só o que pode oferecer em troca. Mostra alguns esboços muito bonitos, elogia sua candidata a modelo e ela cede. Quatro minutos depois - e cinco reais a menos - a Iara tem nas mãos um desenho que parece com qualquer uma, menos com ela... o cara era, realmente, um artista!




Sonho


A passarela que dá acesso  à Estação da Luz passa sobre a Rua São Caetano, conhecida como Rua das Noivas. O motivo  é óbvio: ali estão concentradas dezenas de lojas de aluguel e confecção de tudo que se relaciona a casamento, do vestido da noiva à gravata do padrinho. São lojas com produtos de custo mais acessível e qualidade bem duvidosa, frequentada pelos pombinhos com mais amor do que dinheiro. Quem se importa? As lojas lotadas mostram que o sonho do casamento continua em alta! O interessante é que, como não podiam mudar o nome da rua - uma desfeita com o santo homenageado - deram o nome à passarela. Jeitinho brasileiro...

Cultura inteligente


A Pinacoteca de São Paulo é um lugar onde você descobre que, para fazer cultura, é preciso, além de vontade, inteligência. A Estação Pinacoteca é um espaço para mostras de arte moderna e contemporânea. Há também a Biblioteca Walter Wey e o Centro de Documentação, um arquivo fantástico. O Memorial da Resistência dedica-se à preservação de referências das memórias da resistência e da repressão políticas do Brasil republicano. O Museu Para Todos é um espaço virtual com informações, textos, jogos e materiais de apoio à prática pedagógica que busca contribuir para a relação entre arte e educação. 


Como se não bastasse a Pinacoteca tem uma programação especialmente pensada para as famílias. São atividades lúdico-educativas como visitas, jogos e espetáculos de dança. Ah, as atividades são gratuitas! A gama de atividades e informações acaba gerando interesses diversos e contato com arte e cultura.

Na nossa visita, fomos brindados com uma apresentação da Orquestra Jovem de Cordas, executando Tom Jobim para uma plateia embasbacada. Meninos e meninas de baixo poder aquisitivo tornando-se virtuoses em instrumentos como violino e violoncelo graças a programas de incentivo à arte. Ah, eles são normais: antes da apresentação, numa rodinha de "aquecimento" e diversão, eles tocaram um arranjo para cordas singular de uma música de... Maaron 5,  ovacionada ao final pelos que chegavam ao local. Música é tudo de bom!