domingo, 27 de outubro de 2013

O filho da Dona Carlota


Nosso último dia em Salvador nos reservou uma caminhada pela orla, apreciando a paisagem e curtindo as últimas horas na capital baiana. À hora do almoço, um restaurante agradável - o Barravento - nos serviu a última refeição na cidade: um prosaico filé de pescada amarela com molho de camarão. Prosaico é o escambau: aquilo tinha um sabor indescritível! Não resisti e fui até a cozinha conhecer quem tinha produzido aquela maravilha.
Chef Amaro nasceu numa família humilde no interior da Bahia, filho de D. Carlota, uma mulher que, segundo ele, tornava uma iguaria até areia de rio. Incentivado pela mãe, desde cedo interessou-se pela cozinha. O estímulo dela tinha sempre um fundamento: as pessoas podem deixar de fazer tudo, menos comer. Se souber cozinhar bem, jamais vai passar fome. Nunca fez outra coisa na vida. Depois de cinquenta anos de trabalho, Amaro ainda tem prazer em entrar na cozinha. Com a bagagem de quem já correu o mundo trabalhando em transatlânticos, proclama: não existe nada igual ao cheiro da cozinha baiana. Axé, chef Amaro!   

O cara.

Todo mundo gosta de ser bem atendido, tratado com respeito e dedicação. Quando as pessoas se esforçam para fazer isso, são diferenciadas. Mas quando fazem isso naturalmente, é admirável. Conhecemos uma pessoa assim na nossa viagem a Salvador: Alessandro Brito, ou simplesmente Alex, como gostava de ser chamado. Nosso guia - contratado pela CVC - é apaixonado pelo seu trabalho, um estudioso da história do Brasil e da Bahia em particular. Fala com desenvoltura, se empolga com as próprias narrativas, se emociona com os acontecimentos que descreve. É gentil, amável e preocupado com o bem estar de todos. E como se não bastasse, é bem humorado e está sempre com um sorriso de dentes inteiros. Poucas pessoas sabem sorrir assim: exige autenticidade e segurança para rir até de si mesmo. Naqueles momentos em que a seriedade do assunto se fazia necessária, Alex trocava o sorriso pela firmeza, pela acidez e - algumas vezes - quase indignação. Alex nasceu para fazer o que faz. Ele foi o cara da nossa viagem.  

sábado, 26 de outubro de 2013

Pequena notável

Cecília era uma baianinha de Itacaré, formada em turismo e mestranda em história da arte sacra. Nos recebeu no complexo do Museu da Misericórdia com um sorriso tímido e um pedido de desculpas: fotos são proibidas, mesmo sem flash, e não poderíamos visitar a Igreja, porque estava sendo decorada para um casamento. Putz, que droga! Em seguida, passou a guiar pelas dependências do museu um grupo visivelmente contrariado: será que não seria mais correto nos avisar, antes de pagarmos o ingresso, desse contratempo? No final, descobriríamos que não. Cecília não poupou conhecimento, simpatia, bom humor e boas histórias que, afinal, é o que todos viemos buscar. Ela não tinha o tom monocórdico dos guias pasteurizados que se encontram nesses locais. Sua condução segura do grupo - ela percebeu o desconforto! - conquistou a todos. Quebrou a segurança e, ainda que rapidamente, atravessamos a nave principal da igreja, já lindamente decorada. Nos levou até o balcão do coro, de onde deslumbramos toda a beleza do templo, estranhamente decorado com várias referências maçônicas... Cecília nos informou ainda que o casamento referido no início era uma das formas de sobrevivência da instituição: os pombinhos em questão haviam desembolsado vinte e seis mil reais só para utilizar o local. No final, ainda fomos brindados com o ensaio de um músico em seu piano de cauda, preparando-se para o casório. A mulherada do grupo derretia, e não era de calor... um sonho feminino!  

Santa Casa - Misericórdia!


A Santa Casa de Misericórdia da Bahia não tem esse nome à toa. Ali se iniciou a história da saúde pública no Brasil, com atendimento a todas as pessoas doentes da comunidade. Sua história se confunde com a própria história do Brasil, porque foi inaugurada em 1549, logo depois do descobrimento. A instituição tem origem na católica portuguesa, embora não seja diretamente subordinada à Igreja. Hoje o conjunto arquitetônico inclui além da Igreja de Nossa Senhora da Misericórdia - de beleza singular - dependências para assistência social, sacristia, claustro, a bela sala do Consistório e o Museu da Misericórdia. Neste museu está retratada a história do hospital, com registros históricos de sua evolução e procedimentos. Apresenta também uma réplica da Roda dos Expostos, que ficava instalada nos muros da irmandade, onde as pessoas rejeitavam bebês que eram cuidados e dados à adoção pela instituição. Por fim, uma exposição artística de tirar o fôlego: as 14 Misericórdias. Obras em pintura e escultura que merecem uma reflexão pela escolha dos temas e pelo seu significado.
Sofrer injúrias...
- Castigar com caridade aos que erram, de Calasans Neto
- Consular os tristes, de Caetano Dias
- Curar os enfermos, de Juarez Paraíso
- Dar de beber aos sedentos, de Maria Adair
- Dar pousada aos peregrinos, de Sérgio Rabinovitz
- Ensinar aos simples, de Luíza Olivetto
- Perdoar a quem errou, de Grace Gradin
- Sofrer as injúrias com paciência, de Bel Borba
- Vestir os nus, de Mário Cravo Jr
- Dar bons conselhos, de Carmem Penido
- Rogar a Deus pelos vivos e pelos mortos, de Christian Cravo
- Remir os cativos e visitar os presos, de Juracy Dórea
- Dar de comer aos famintos, de Eliana Kertész
- Sepultar os mortos, de Cesar Romero
- Nossa Senhora da Misericórdia, de Tatti Moreno
- Nossa Senhora da Piedade, de Sérgio Ferro
  

O Brasil é aqui.

Elefante branco
Salvador, uma das sedes da Copa das Confederações 2013 e da Copa do Mundo 2014 tem metrô. Ele ainda não circula pela cidade, também não tem prazo para fazê-lo. Com mais de 7km de extensão, a obra está parada há uma década. Seu trajeto elevado pela cidade é um exemplo de desperdício de dinheiro.


Estádio Itaipava Fonte Nova
Ao seu lado, foi erguido o novo Estádio Itaipava, que deve ter consumido muito mais dinheiro que o necessário para terminar o metrô. Salvador é linda, mas aqui também é Brasil.

Agradável companhia

Renata (à esq.) e Natália: pura diversão
Viagens são ocasiões propícias para conhecermos pessoas, estabelecer novas relações e espraiar nossas amizades. Foi assim que conhecemos Natália e Renata. A primeira vai cursar música na Universidade Federal da Bahia, chegando de Araçatuba/SP. Renata é catarinense, jornalista e proprietária de uma produtora de vídeo no Rio de Janeiro. 
Clara (à esq.) e Adriane: mais momentos virão
Por sua vez a falante Clara e a risonha Adriane são pura energia: eram parceiras para tudo a toda hora. Como moram perto de nós, novos encontros deverão recordar os bons momentos.

Todas foram figuras divertidas e encantadoras, que valeram um bom papo e uma companhia agradável durante nosso tour por Salvador.

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

As Meninas do Brasil

Todo mundo conhece Salvador, ou pelo menos reconhece seus principais pontos turísticos: Mercado Modelo, Elevador Lacerda, Igreja do Bonfim, etc. Mas a arte desta cidade está em coisas muito mais singelas, simples e surpreendentes do que aquelas dos cartões postais. Um exemplo: as Meninas do Brasil. Tudo é diferente, tamanho, cor e textura. Nem nas posições elas se repetem. Em comum, mesmo, só as formas arredondadas. Braços, pernas, bochechas cheios de curvas e volume. São assim as famosas gordinhas da artista plástica Eliana Kértsz. São três peças em bronze. Cada uma tem quase quatro metros de altura e pesa uma tonelada e meia. Ficaram conhecidas como As gordinhas de Ondina. Há mais de oito anos elas chamam a atenção de quem passa pela Avenida Ademar de Barros, na orla de Salvador. Mas pouca gente sabe o que elas significam. Damiana representa os negros, Mariana, homenageia os brancos. A terceira é Catarina, e representa a comunidade indígena que ajudou formar o povo brasileiro. Com tanta beleza e história, difícil não se encantar com estas figuras. Rechonchudas e cheias de sensualidade.

Arte urbana

Expressões de arte por toda a parte
Salvador é um lugar que respira arte. Você pode não gostar da arte que vê, mas não pode ficar indiferente ao fato de que ela existe. Nos prédios, nos hotéis, no mobiliário urbano, em todos os lugares há manifestações artísticas. As pessoas gostam disso, não só os turistas como os nativos. A música, a escultura, a pintura, a dança são coisas que, mais do que fazer parte do dia a dia, são apreciadas com notável interesse.

Tamanho: grande

Memorial Irmã Dulce: visita obrigatória
Existem lugares e pessoas que conhecemos quando viajamos que recebem uma referência especial: dizemos que valeu a viagem. Com certeza, conhecer a história da vida e da obra de Irmã Dulce foi dessas coisas que valem atravessar o país. Sua humildade, sua grandeza e o tamanho de sua realização parecem coisas impossíveis para a pequena franzina de 1,48m, com tão poucos recursos, que começou acolhendo pobres e doentes em um galinheiro do Convento Santo Antônio. Hoje, as Obras Sociais Irmã Dulce abrangem seis creches, uma escola e um hospital com mais de mil leitos e mantém vivo e válido todo o esforço daquela que os baianos chamam de Mãe dos Pobres e Doentes.

Soteropolitanos




Todo mundo tem o baiano como um povo descansado. Na realidade eles são um povo desencucado, sem estresse e de bem com a vida. As coisas vão dar certo, na hora certa. Então, basta esperar, né?
À propósito do nosso título, soteropolitano é o gentílico utilizado para o indivíduo que nasce em Salvador, na Bahia.

Romeros Britos


Tá certo que ele é uma personalidade baiana, conhecido mundo afora pela sua arte, um Caetano Veloso dos pincéis. Mas daí a reproduzir descaradamente suas obras - não em papel, mas em telas! - parece um pouco demais. Metade das bancas do Mercado Modelo tem essas para vender. Romero Brito deve estar rico só com os direitos autorais... 

Vendendo encanto


Viagens, mais do que lugares, são oportunidades para conhecer pessoas. Gente simples, que cativa e diverte. Jessica, a vendedora do Mercado Modelo, era uma menina tímida de sorriso contido, mas com uma educação e um jeito meigo que encanta a todos. 

Estrela guia

Mara: um nome apropriado...
Salvador tem um serviço de ônibus turístico para um tour pela cidade. Usamos esse serviço em Paris e Londres, e nos apaixonamos. Quando resolvemos utilizar no Rio de Janeiro foi um desastre. Não desistimos e decidimos testá-lo na capital baiana. Uma grata revelação: serviço perfeito, com atendimento bilíngue, horários respeitados (sim, baianos cumprem horários...), um valor justo e um equipamento adequado: um ônibus doble deck com a parte superior aberta e uma cobertura de lona providencialmente estendida, protegendo os turistas do tórrido sol baiano. Paradas estratégicas, com tempos de visitação civilizados, pessoal atencioso e a possibilidade de ficar nos lugares e pegar o próximo ônibus, se quisermos ficar mais tempo visitando determinado ponto. Nossa guia, Mara, foi fantástica! 

Contrastes

Ao lado do Mercado Modelo...
...um modelo de descaso!
Salvador é uma cidade de contrastes. Prédios centenários convivem com uma arquitetura moderna e arranha-céus estilosos. Mas o grande contraste arquitetônico desta cidade é o tratamento aos prédios  tombados pelo patrimônio histórico. Ao lado de construções que receberam  restauração exemplar e tiveram revigorada sua beleza - como o Pelourinho, por exemplo - coexistem verdadeiros escombros que ameaçam ruir pelo descaso de uma legislação ineficiente com seus proprietários aliada à incompetência da gestão pública no trato do assunto.

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Sede...

Tô com sede, e daí?
Em Salvador faz calor, mas ninguém passa sede. Sempre tem um lugar por perto onde comprar um refrigerante, uma cerveja ou até uma água de coco. Mas  não se avexe não: qualquer coisa, sobe num coqueiro e recolhe uma fruta no ponto. Só não esqueça de jogar ela lá de cima para abrir, porque senão você vai ter um coco que não serve para nada!   

Chegando...


O piloto do voo 3198 da TAM esqueceu o lugar onde deveria pousar no Rio de Janeiro. Quando tocou o solo, para parar aquela encrenca, quase fez um cavalo-de-pau com o avião. Pelo sim, pelo não, quando decolamos para Salvador havia outro piloto no lugar dele. Fiquei tão triste... Um suave pouso em Salvador e uma receptivo chamada Rosa nos aguardava... com uma máquina de cartão de crédito na mão! Oh, não, vai começar de novo!

Vamos lá!

Lá vamos nós...
Não sei quem inventou que viajar cedo para "aproveitar o dia" é legal. A gente tem que acordar tão cedo para pegar o voo que passa o resto do dia "aproveitando" como um zumbi... Mas se é assim que funciona (e é mais acessível, coisa que a Tia Iara a-do-ra) lá vamos nós...

domingo, 20 de outubro de 2013

Vai partir - parte... sei lá que número!


Compromissos transversais - o principal deles conosco - vai nos levar a Salvador da Bahia de Todos os Santos! Uma estadia singela, de poucos dias, para visitar mais um local que vai receber a Copa 2014. Aproveitando a ocasião, não deixaremos de conhecer o que é que a baiana tem, além de vatapá, caruru  e o Olodum. Se nos serve de consolo, o voo não tem conexão, apenas uma escala. E a vantagem de ganharmos uma hora a mais, porque lá não tem horário de verão. Desta vez vou amarrar fitinhas do Senhor do Bonfim pelo corpo todo, só por precaução! Vai que apareça outra moto no meu caminho? Viagem ok, tudo reservado, hora de detalhar o roteiro. Tio Google, onde está você???

segunda-feira, 8 de abril de 2013

O retorno

Tudo bem: embarcar num avião para uma semana de descanso, faceiro e cheio de planos, e voltar sentado numa cadeira de rodas não é o melhor dos finais de história. Mas é preciso avaliar as coisas pela sua ótica real. 


Primeiro, voltei! Várias pessoas da área médica que me atenderam disseram que eu tive muita sorte. Eu chamo isso de anjos da guarda em ação... obrigado!

Segundo, a cadeira de rodas é provisória: um porre necessário (ainda bem que ela existe!), mas provisória. 

Terceiro, a viagem, os lugares, as pessoas, tudo foi maravilhoso, e um fato isolado, embora importante, não pode deslustrar essa experiência. 

Por último, vivo um momento ao mesmo tempo frágil e doce: impedido de fazer a maioria das coisas, tenho sempre alguém por perto disposto a fazê-las, um interessantíssimo exercício de tolerância comigo mesmo e de gratidão para com os outros. A isso chamamos aprendizado. 

Mas ainda acho que isto é praga do Usain Bolt, que fugiu de mim naquela prova dos 150m em Copacabana. Medrou mesmo, que máscara! 

domingo, 7 de abril de 2013

A espera

Nossa ideia sempre foi conhecer melhor o aeroporto do Rio de Janeiro, porque nas vezes em que passamos por aqui estávamos em trânsito. Mas desta vez ainda não seria possível, porque quem não conseguia ficar em trânsito era eu! 

Dois carrinhos com malas...
Havíamos solicitado serviço especial na Gol informando da necessidade de cadeira de rodas para um dos passageiros. Embora tivéssemos chegado muito antes do horário do check-in no aeroporto, meu veículo já estava à minha disposição. Assim, enquanto aguardávamos, nossa atividade resumiu-se a leitura de jornais e revistas, café e notebook - sem internet, porque há trocentas redes de wi-fi, todas com preços exorbitantes. 

O início do fim


 Sábado, 16 horas, toca a campainha: Dona Nilda veio buscar as chaves, conferir se não destruímos nada e fechar o apartamento. Parecia meio chateada, como se tivesse alguma parcela de culpa no que havia acontecido comigo. Sorrimos e brincamos para distensionar,  mas acho que minhas dores e a preocupação da Iara comigo nos traíram. Malas fechadas, descemos para pegar um táxi, única solução de transporte para este poliralado... 


O Rio de Janeiro deve ter mais táxi do que gente, já havíamos percebido isso. Cidade turística tem dessas coisas. Mal a Iara saiu na rua e levantou o braço, parou um deles. Amauri era uma figura: negociou a corrida, contava causos, fazia piadas de gaúcho e em seguida pedia desculpas (e continuava fazendo), nos divertiu muito no trajeto até o aeroporto. Deveria durar mais de uma hora, levou 25 minutos, porque o trânsito estava muito tranquilo. Temos mais de três horas até o embarque.  

Voo solo

Minha pouca prática me colocou de molho pelos últimos dois dias da nossa viagem. Sobrou para a Tia Iara cumprir uma pequena parte do nosso roteiro em voo solo. Como ela o-de-ia passear na beira da praia fazendo fotos e se enfurnar em feiras de artesanato, ela foi garbosamente para o sacrifício.


Nem a chuva segura...


Sonho de consumo: um apartamento nesse prédio aí atrás.

Faixa de areia escultural


Lazer ou falta do que fazer?


Pesca ou liturgia?

Delírio da Tia Iara!




Susto!


O destino nos reserva coisas inesperadas que sempre terminam em experiências instigantes. Chegamos no Rio de Janeiro dispostos a fazer um roteiro turístico que fora planejado em cada detalhe. E a expectativa em cumprir este programa dependia muito das condições meteorológicas, mas a previsão do tempo não nos animava. Assim, tratamos de nos adaptar desde que chegamos.
Mas há alguns acontecimentos que fogem ao nosso controle. Ao atravessar a avenida, de bicicleta, numa faixa de segurança, um segundo de dúvida: 

E agora, vou ou não vou? Fui!

Hora errada, lugar errado e lá vem uma moto. Resultado:


Socorrido pelos bombeiros Sandro e Thaise, (no Rio a SAMU é coordenada pelos bombeiros) fomos conhecer um local que não estava no programa: o Hospital Municipal Miguel Couto. Cinco horas depois saímos com algumas radiografias e receitas embaixo do braço e o diagnóstico do Dr. Fabrinny: duas fraturas, uma ruptura de ligamentos, uma luxação severa, vários hematomas de todos os tamanhos pelo corpo e uma descrição engraçada dos cariocas: um poliralado ! Previsão: Um tempão sem poder andar e mais um tempão fazendo fisioterapia. Fim de passeio para mim, o negócio agora é curtir a cama, a televisão e a internet...

sábado, 6 de abril de 2013

Forte de Copacabana


Entrada da casamata dos canhões

Em 1908, foi iniciada a instalação do Forte na Ponta da Igrejinha, que separa as praias hoje conhecidas como Ipanema e Copacabana. O Forte de Copacabana foi inaugurado em 28 de setembro de 1914, pelo então Presidente da República Marechal Hermes da Fonseca.

Sua construção em forma de casamata foi um desafio à engenharia militar. As paredes externas voltadas ao mar, de 12m de espessura, acolhe canhões alemães assentados em cúpulas giratórias: dá medo só de olhar, imagina aquilo disparando! Foi a mais moderna praça de guerra da América Latina na época.


O lugar é estranho...

A parte interna do forte é uma coisa inacreditável, um bunker, verdadeira fortaleza. Todas as salas foram ambientadas conforme o uso da época, retratando com fidelidade o funcionamento do forte. A sensação é claustrofóbica e com muita umidade. Ficamos pensando o trabalho enorme de construir as edificações, com as técnicas disponíveis na época e em um lugar de tão difícil acesso como aquele pontal.    

Tudo isso  prá dar um tiro de canhão!

Visão militar


O programa previa uma visita ao Museu do Exército e um cafezinho no final da tarde no Café Colombo, ambos no Forte de Copacabana. Mas como o tempo não colabora muito, aproveitamos a manhã de tempo bom e a facilidade da bike alugada para cumprirmos essa parte do nosso roteiro.

Surpresa agradável

O Museu do Exército é uma exposição de objetos e cenários históricos, ligados às campanhas militares no Brasil e no exterior, principalmente na Segunda Guerra Mundial. Todos estão ambientados em estandes com um trabalho artístico bem executado e de bom gosto. Claro que ele retrata nosso exército de maneira meio ufanista, tendo inclusive uma sala dedicada exclusivamente às realizações dos presidentes militares, de Castelo Branco a João Figueiredo, durante a ditadura militar. O museu é pequeno, mas retrata muito bem essa parte da história, a seu modo. Vale a pena conhecer.

Lugar pouco conhecido e exposição competente

Vida de carioca

Nosso planejamento previa que teríamos um dia bem carioca: passeio sem compromisso, conhecendo melhor nosso entorno. E a melhor forma de fazer isso é de bicicleta. Há várias empresas que alugam bikes, desde as importadas com design e estilo - e que custam mais caro - até as do Bike Rio, um projeto bem bolado do Banco Itaú que deu muito certo. 

As magrelas são bem conservadas e custam R$ 5,00 por dia, para utilizações de até uma hora com intervalo de quinze minutos entre elas. Basta comprar via telefone um passe diário (com cartão de crédito), ir até a estação onde está a bike e ligar novamente (o telefone tem que ser o mesmo da compra) para fazer a liberação. Simples assim.
Passear por Copacabana, Leme, Ipanema, etc. é uma experiência bem legal. As pessoas não tem pressa: há muita gente caminhando, correndo e andando de bicicleta o tempo todo, indiferentes ao intenso movimento de veículos nas avenidas. Gostam de conversar e são excelentes anfitriões. 
Esse carioca era meio caladão.
Muitos cariocas tem a rotina de começar e terminar o dia na praia. Chegam cedo, correm, pedalam ou caminham, vão para ao trabalho e voltam para terminar o dia aqui. Parece perfeito, mas lembre-se: o local é turístico e o custo de vida é caro. Restaurantes, lojas, locações, tudo é mais salgado que a água do mar. Comprar um bom imóvel em Copacabana é mais caro que um similar bem localizado em Paris.

sexta-feira, 5 de abril de 2013

Estrelas Guia

Daniely e Graziele, junto com a musa inspiradora!
Há pessoas que parece que nasceram para fazer o que fazem. Nossa visita ao Teatro Municipal do Rio de Janeiro nos reservou um encontro com duas dessas figuras maravilhosas. Daniely e Graziele nos guiaram pelos caminhos do teatro e nos deram uma aula fantástica, não somente sobre o prédio como sobre a história da arte ali representada. Uma área que tem um vocabulário muito próprio e de difícil compreensão para os não-iniciados, ambas traduziam essas expressões o tempo todo. Um inglês bem chiadinho mas bastante correto completava suas qualidades. Estagiárias de História, se formam e vão sair do Teatro este ano. Farão falta, com certeza. 

Biblioteca Nacional


Lá no início do nosso projeto de viagem, durante a seleção dos locais que gostaríamos de conhecer, a Biblioteca Nacional foi um dos primeiros escolhidos. O lugarl é um verdadeiro depositário dos documentos que retratam a cultura, particularmente a brasileira. 


Fotos, só no saguão de entrada.
Não há acesso direto ao acervo da biblioteca, colocado nos cinco andares superiores.  Documentos liberados para pesquisa e manuseio são solicitados e entregues no primeiro pavimento para consulta em até quinze minutos. Um terço do acervo está  digitalizado, e é consultado diretamente em terminais que acessam o conteúdo disponível ou pelo site www.bn.br. A Biblioteca tem mais de duzentos anos e o prédio atual mais de um século. Todo o mobiliário do local também tem mais de cem anos, a maior parte executado em aço, que a gente jura que é madeira enquanto não toca. Uma preservação fantástica, fruto de duas restaurações sofridas pelo prédio, uma nos anos setenta e outra há cinco anos atrás. 

Nas várias salas de consulta - o acervo é dividido por áreas de interesse -  é proibido fazer barulho, comer, beber e até suspirar alto! Curiosidade: em uma das salas, nas pequenas mesas numeradas, a guia nos chamou a atenção para a mesa número quatro. Era onde Oswald de Andrade sempre sentava para escrever. Se alguém ocupasse o local ele solicitava ao atendente que retirasse o intruso da sua mesa. A sumidade da cultura brasileira era um supersticioso! Pelo sim, pelo não, tinha um figura com cara de nerd sentado na mesa dele!

Por Lei Federal, qualquer publicação no Brasil deve ter pelo menos um exemplar enviado para a biblioteca, a fim de fazer parte de seu acervo. Se mais exemplares forem enviados, eles serão cedidos à outras bibliotecas que com ela mantêm convênio. Também recebem exemplares impressos dos principais jornais do mundo inteiro.

Nossa guia, Bruna, parecia uma gravação monocórdica: sabia de cor todos os nomes e todas as datas, mas se alguém fazia alguma pergunta fora do seu roteiro, ela tinha dificuldades em responder, dando a impressão que seu conhecimento era fruto de decoreba!

Teatro Municipal - bravo!



A visitação ao Teatro Municipal do Rio de Janeiro só pode ser feita guiada. A razão é óbvia: o local não é uma exposição, é muito grande e há vários locais não acessíveis aos visitantes, embora não estejam trancados. Os grupos partem de hora em hora, divididos em visitantes que entendem português e os que entendem inglês. Ela começa com um vídeo de seis minutos sobre a restauração do teatro. Os números são impressionantes: 800 dias de trabalho, mais de 300 restauradores, milhares de folhas de ouro consumidas nos revestimentos. E muitos patrocinadores de peso que derramaram muito dinheiro ali. 

Dois espetáculos!
No dia da visita, havia um ensaio no palco principal, o que nos impediu de visitar a platéia. Os camarotes e os camarins também não estão disponíveis para visitação. Ainda assim a visita foi muito interessante: entramos no mezanino - e até pudemos assistir parte do ensaio no palco - além dos foyers, terraço, galerias, bar e hall de entrada.

O que chamou a atenção durante a visita foi a eficiência de todo o serviço prestado. O ingresso não era caro - R$ 10,00 - mas o profissionalismo de todos os envolvidos no atendimento impressiona. Taí um local pronto para receber os turistas da Copa e da Olimpíada. Deu um espetáculo!

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Ônibus errado!

Não sabemos se foi sorte ou os belos olhos castanhos da Iara Bravo, mas o fato é que não havíamos tido percalços até agora na nossa incursão à Cidade Maravilhosa. Mas eis que surge uma oportunidade excitante: opera no Rio de Janeiro um serviço similar ao que a maioria das cidades europeias turísticas oferecem: um ônibus turístico, aberto, como manda o figurino - mas com uma área fechada e com ar condicionado para os mais refinados - que transita por todos os pontos turísticos da cidade, com serviços de guia em várias línguas, com horário determinado. É o City Rio. Pode-se descer em qualquer lugar, apreciar a atração do local e pegar o próximo ônibus e seguir em frente. O passaporte vale por todo o dia. 

Sonho de consumo de turista

Como já havíamos utilizado o serviço em Londres e Paris, ficamos maravilhados com a oportunidade. Compramos os passes e aguardamos, na manhã do dia seguinte, no local indicado para embarque mais próximo do nosso apartamento. Aí começaram os problemas: esperamos por quase uma hora pelo ônibus (o pessoal anunciava espera de 20 a 30min entre as viagens). Quando já estávamos quase desistindo apareceu a encrenca: Ueba! Vamos lá, agora vai! 


Vamo que vamo...ôps!

Vai é se lascar: ao subirmos no ônibus e nos acomodarmos não recebemos os fones de ouvido, que são conectados aos canais com as línguas disponíveis pelos guias, que deveriam descrever as atrações durante o percurso. Ao solicitarmos o material à atendente da empresa, recebemos apenas um seco: não tem! Nenhuma explicação, desculpa, nada! Não tem e era isso, senta e viaja. Segundo problema: acho que o motorista estava fazendo curso para piloto de Stockcar, e dirigia aquele trombolho a mil. Não parava nunca, a não ser em semáforos, e a gente não conseguia fazer uma foto! Afinal, para que servia aquela viagem, se não sabíamos onde estávamos e muito menos conseguíamos fotografar o que era interessante? 


O pessoal também não estava muito feliz...

Um serviço completamente diferente de nossa experiência européia. Depois de 20 minutos de passeio decidimos abandonar aquela barca furada. Descemos no centro da cidade e tomamos outro rumo. Fica a dica! Cuidado com esses caras!

Tanzaniano da gema

Tanzaniano da gema
No passeio de van encontramos uma figura divertida e interessante ao mesmo tempo: nosso guia, o tanzaniano Martin Nzori. No início da viagem ele nos fez um pedido inusitado: como tinha no grupo pessoas que só compreendiam inglês ou espanhol, queria utilizar somente as duas línguas para se comunicar, a fim de não perder o timming do seu trabalho. Pediu para não utilizar o português. Sorte dele que somos de um país chamado Rio Grande do Sul, metido a besta e que tem um vocabulário próprio e um comportamento peculiar: invadido durante anos por hordas de argentinos e uruguaios, aprendeu na marra a entender o espanhol. Para ele, foi a salvação da lavoura!
Martin falava pausadamente, carregando seu sotaque nas duas línguas. Chegou ao Brasil há 19 anos, depois de residir cinco anos na Dinamarca e outro tanto nos Estados Unidos. Além do espanhol e do inglês, fala mais três dialetos dos mais de vinte de seu país de origem. Era solícito na resposta às questões dos turistas e preocupado com o bem estar de todos. Quase teve um treco quando achou que tinha perdido um casal de ingleses do grupo. Conversava bastante, mas não era intrometido nem inconveniente. Considera-se um carioca, adotado pela cidade que escolheu como morada definitiva. Profissional competente, tinha um conhecimento adequado das informações necessárias ao bom desenvolvimento do seu trabalho e a simpatia necessária para bem executá-lo.

Turistas de carteirinha - a Missão

O almoço não descia direito. Por mais que mastigasse, a comida não descia. Algo não estava certo. Eu suava frio e tinha uma leve palpitação, embora o restaurante servisse um almoço muito bom e tivesse uma climatização adequada. Demorei um pouco a me dar conta: eu estava prestes a passar pela prova de fogo da viagem: aproximava-se a hora do bondinho do Pão de Açúcar! Tenho fobia aguda de altura e sofro de cagacite congênita. Como é que eu vou subir naquele troço? 
A turma entrou na van feliz da vida, excitados com a perspectiva do passeio: argentinos falando inglês, ingleses arranhando espanhol, o guia falando algo ininteligível que ninguém entendia, uma beleza! E eu, mudo. Estufei o peito, tirei coragem sei lá de onde e me decidi: se for prá morrer de fobia - morre-se disso? - que seja no bondinho do Pão de Açucar, em alto estilo, reportagem no Jornal Nacional, com direito a obtuário do Wiliam Bonner! 

É agora que eu morro!

Mas não é que a desgraça passou, o passeio foi fantástico e eu até filmei a paisagem daquela encrenca viajando no espaço que nem avião sem asas? 

No fim, só alegria!

O que a gente não faz por amor à Iara Bravo!