quinta-feira, 14 de julho de 2011

The return

 Em Londres (acima) ou em Paris (abaixo)
até os mendigos tem o hábito da leitura.
A viagem acabou. As experiências não. De cada país, de cada lugar, voltaram conosco situações que ainda vão influenciar de alguma maneira a nossa maneira de pensar, de agir e de avaliar as coisas. A viagem mostrou aquele mundo que nós, brasileiros, chamamos de mais frio, menos acolhedor, diferente do que estamos acostumados. Ok, se calor e acolhimento quer dizer falta de educação, desrespeito à coisa pública e levar vantagem a qualquer preço, então quase começo a preferir a frieza. A impressão que temos da nossa incursão pela Europa é o encontro com um povo atento à uma construção social interessada no bem estar geral, buscando no passado o aprendizado para não cometer erros futuros. Cometeu-os, e vai continuar cometendo-os. Mas, seguramente, tem aprendido com eles. E isso faz diferença.

domingo, 20 de março de 2011

Em casa!

O vôo da Gol pousou suavemente no Aeroporto Salgado Filho às 00h:30min da quarta-feira 16, apenas 01h15min atrasado. A filhota Lissandra, juntamente com o genro Marcelo e a neta Larissa foram pacientemente nos aguardar. Seus abraços nos deram a certeza: estávamos em casa. Fomos longe como nunca. Conhecemos um pouco do jeito de ser e de viver de outros povos e países. A mente que se abre a novas idéias nunca mais voltará ao tamanho normal. Não voltamos maiores, mas seguramente voltamos um pouco melhores.


Brasil, zil, zil!!!

Partimos do Porto e deixamos para trás o continente europeu, que nos maravilhou durante nosso passeio. Inglaterra e França, particularmente Londres e Paris, nos colocaram num mundo diferente e nos mostraram claramente: um outro mundo, diferente do que vivemos no Brasil é possível, sim. Depois de 10h40min de uma viagem tranquila chegamos a São Paulo. O retorno a nossa realidade nos lembrou que, realmente, há muito a ser feito. Ao desembarcarmos, depois da longa viagem, fomos brindados com uma hora e meia de fila na alfândega. Dois funcionários mal olhavam passaportes e malas em dois momentos diferentes. Qualquer coisa passava por ali. Um serviço lento e absolutamente ineficiente. Por que submeter os passageiros a isso?
Como se não bastasse, o embarque para Porto Alegre foi feito através de um vôo com destino a Córdoba, na Argentina. Nova passagem pela alfândega, agora com uma fila de duas horas, com direito a uma desconsideração absurda: duas máquinas de raio X funcionando para um batalhão de passageiros, atendentes mal-educados e serviço de péssima qualidade da Polícia Federal.



Resultado: a saída de São Paulo atrasou mais de uma hora e meia. Apenas para lembrar: os serviços nos aeroportos em Lisboa, Londres, Paris e Porto (check in ou alfândega) nunca demoraram mais do que cinco minutos. Como diria aquele apresentador de telejornal: Isto é uma ver-go-nha!

Porto, pois, pois...

Uma hora e meia depois, Paris ficou para trás e estamos na cidade do Porto, em Portugal. Um aeroporto moderníssimo, organizado, espaçoso, confortável, com todos os recursos necessários para seu funcionamento, além de algumas mordomias como um bom free-shop, alimentação, sanitários impecáveis, wireless (o único dos sete aeroportos que utilizamos a oferecer esse serviço sem custo) e com preocupações ambientais (o aeroporto tem inclusive uma estação de tratamento de efluentes). Novamente não pude deixar de lembrar: tem Copa do Mundo e Olimpíada no Brasil, o que vamos fazer com nossos aeroportos? Portugal tá dando um exemplo!
Jornal gratuito: apenas mais uma mordomia


Arquitetura do aeroporto: arrojada e leve


Um aeroporto e várias preocupações

O receptivo nos apanhou no hotel pontualmente. Mário era um português de fala mansa e muito bem informado, particularmente sobre o Brasil, país que espera conhecer em breve. Prevenido, calculou que problemas de trânsito poderiam fazer nossa viagem ao aeroporto durar uma hora: durou 20 minutos. Assim, chegamos a Orly quase três horas antes do vôo.

Em Orly o cara que recolhe os carrinhos é motorizado, É mole?

Como não dispunhamos de cadeados nas malas, achamos por bem tomarmos a mesma providência da vinda: fazer um lacre das mesmas naquelas máquinas próprias para isso. Entretanto, soubemos que o serviço estava disponível somente a partir das 06h00min. Como nosso vôo era às 07h10min e estávamos em frente ao portão de embarque achamos que não haveria problemas. Aí começaram os problemas: a moça que operava aquela geringonça chegou às 06h20min. Começou a abrir aquele troço e depois a operá-lo com uma lerdeza impressionante. Finalmente, com as malas lacradas fomos até o check-in, onde levamos uma mijada básica do atendente porque deveríamos já estar dentro do avião. Nos fez sair correndo para o embarque, onde havia uma fila. E agora? Vamos perder o avião... Por sorte a fila andava rapidamente e logo chegamos à revista da polícia francesa. Nova angústia: a moça começou a revistar todos os frascos que a Iara trazia na sua bagagem de mão (vocês têm idéia de quantos frascos de alguma coisa uma mulher pode trazer numa frasqueira?). Separava-os meticulosamente em pequenos envelopes plásticos, não sei se por ordem de produto, data, origem, cor, vencimento, periculosidade ou o quê e os devolvia para a valise.

Iara e sua valise-problema...

Aquilo não acabava nunca, e o tempo passando!! Livres dela,  saímos em disparada em direção ao avião. Ao sentarmos na poltrona, um alívio, finalmente.

Cidade musical



Por onde quer que se ande em Paris sempre vamos encontrar alguém fazendo música. É claro que os grandes teatros (que não são poucos), as casas de espetáculos (são dezenas) e os locais destinados a apresentações artísticas (que são centenas) nos mostram a pujança da cultura musical francesa. 




Mas são as manifestações artísticas espontâneas, que ocorrem na rua ou em locais públicos, que demonstram o gosto por essa arte. Assim, quando menos se espera, lá estão eles ao dobrarmos uma esquina ou chegarmos a uma praça. A porta do metrô se abre e eles entram, apresentam-se e fazem seu som, utilizando-se de instrumentos ou mesmo de uma caixa de som, um playback e um microfone. 



Tudo bem, eles fazem isso para ganhar dinheiro (ou, pelo menos, complementar o orçamento), muitos podem ser clandestinos, etc... Mas se fazem, é porque há pessoas que pagam por essa arte, valorizam essas apresentações.


Os franceses curtem música, tem gosto eclético, e se o que ouvem for de boa qualidade eles não economizam alguns euros para incentivar esses artistas. Não raro, ao deixarmos a praça ou a porta do metrô se fechar, fica no ar uma indizível sensação de bem estar.   




Vôo Solo

Nosso último dia em Paris foi um vôo solo pela cidade. Pegamos um metrô em Gallieni e fomos até Ópera, visitar o Ópera Garnier, a Conservatoire National de Musique, a Pinacotheque e, como ninguém é de ferro, a Galeries Lafayette. Esquecemos que era segunda-feira, quando a grande maioria dos espaços turísticos de Paris estão fechados.

Ópera Garnier

Conservatoire National de Musique

Que mancada! Fomos obrigados a rumar para Lafayette, com uma sensação de vazio cultural.  

Galeries Lafayette

Ao chegarmos a Lafayette tivemos um choque: já conhecíamos a fama do templo do consumo de luxo em Paris. Mas não estávamos preparados para o que veríamos ali. Os prédios (são dois, enormes, uma dedicado ao público feminino e outro aos resto...) com mais de 300 anos abrigam estandes (minilojas) de todas as grifes do mundo. Espaços de muito bom gosto, funcionalidade e suntuosidade.


Moda, perfumaria, acessórios, jóias, artigos de couro, tudo muuuito caro, pelo menos para o nosso bolso. Louis Vuilton, Dior, L’Oreal, Cartier, Mont Blanc, Chanel, Gucci, etc. se distribuem por 4 andares de um prédio que é uma jóia arquitetônica.


Imagina-se que um local como esse tivesse um público seletíssimo e um movimento discreto. Outro choque: era um entra-e-sai de gente por todas as portas (que são várias), parecendo uma grande loja de departamentos de classe média no centro de alguma capital brasileira num sábado à tarde. E todo mundo comprando! Loucura, isso não existe! A não ser em Paris, é claro !

A despedida

Chegou a hora do nosso grupo, sempre unido e divertido, começar a se separar. Tudo foi muito rápido e muito intenso. Em poucos dias parecia que nos conhecíamos há anos. Assim, no sábado à noite nos despedimos de Élcio e sua família, que deixariam o hotel para embarcar de volta ao Brasil na madrugada de domingo, dia 13. Uma despedida emocionada, não só pelas pessoas fantásticas que conhecemos, como por convivermos com a história de vida vitoriosa deles. No domingo pela manhã foram embora os irmãos Robson e Mário, duas figuraças divertidíssimas, rumo a Amsterdã, continuar seu passeio. Por fim, na segunda ao meio-dia Roger e Ana, o casal de médicos do grupo, voltou para Belém do Pará. Estranhamente, estamos sós. Todos deixaram conosco uma saudade deles. Acho que levaram consigo uma saudade nossa. Não nos separamos sem antes prometermos que nos reuniríamos, em breve, em algum lugar do mundo. Os Revoltados de Jurys Inn espalharam-se pelo Brasil. Aquele país nunca mais será o mesmo. Nem nós.

Cultura em formação.

Algumas peculiaridades (se poderíamos chamar assim) do comportamento francês nos chamam a atenção. A primeira é a educação: sempre foi dito que o parisiense, em especial, é mal educado com estrangeiros, talvez fruto das sucessivas invasões que sofre desde os tempos medievais, passando pelas guerras modernas e terminando nos turistas de hoje. Isso não deixa de ser uma verdade, mas diria que é uma meia verdade. Apesar de visivelmente incomodados, nota-se na maior parte das pessoas um certo esforço em tratar bem os turistas. O restante, esse sim, é mal educado mesmo, como de resto no mundo inteiro.
Entretanto, quando falamos de cultura, percebemos que no Brasil, por exemplo, há um longo caminho a percorrer. Ok, você vai dizer que enquanto andávamos  pelados e mal conhecíamos o fogo, os europeus já tinham mil anos de história como civilização, produzindo arquitetura, escultura, pintura e música. Mesmo assim, é difícil conviver (e aceitar) certas diferenças.
As crianças francesas, por exemplo, são educadas para absorver a cultura e a história como parte de sua formação. Não como se aprende matemática ou biologia. Para elas, se conta a história, de maneira lúdica e divertida, tornando esse conhecimento um prazer a ser compartilhado.

Qual historinha conta essa professora que interessa tanto a esses pequenos boquiabertos?


Atentemos ao cenário onde acontece: o grupo está no Museu do Louvre, frente a uma série de esculturas da antiga Roma, onde ouvem, extasiados, as histórias da História. Os franceses aproveitam-se dessa logística (ter a posse da história) para criar uma cultura de conhecimento. E quem conhece seu passado sabe melhor traçar os rumos do seu futuro. Não o futuro de um povo ou de uma nação, mas o futuro da Humanidade. Acho que Sérgio, nosso guia, também andou por aqui há muitos anos atrás, quando também tinha essa idade.

sábado, 19 de março de 2011

O francês também era o cara!


Nosso guia, Sérgio, era um professor de História da Arte com pós-graduação em turismo histórico (é, isso existe na França...). Fala fluentemente cinco idiomas: francês, inglês, italiano, espanhol e português, além de arranhar o alemão. O idioma oficial era o espanhol, mas toda a vez que falava alguma palavra esquisita aos ouvidos tupiniquins imediatamente repetia-a em bom português. Uma fala tranquila, constante, pausada e clara. Gestos contidos e restritos ao necessário. O cara era de uma finesse e de uma educação impressionantes. Foi nosso norte nas incursões no Louvre, Notre Dame, Versailles, Montmartre e Torre Eiffel.
Após distribuir los auriculares (como chamava os fones de ouvido com o qual nos guiava e transmitia informações) passou todas as orientações sobre seu funcionamento e sobre comportamento e atitude durante as visitas. Falar alto, correr e gargalhar eram coisas proibitivas. Fazer fotos com flash também. Ambas as coisas recebiam um severo e constrangedor olhar do nosso guia, tanto quando aconteciam no nosso grupo (o que foi muito raro) quanto em grupos alheios. Foi particularmente duro com a guia de um grupo de jovens no Louvre, questionando se eles tinham educação condizente para estarem ali e ela condições de coordená-los. Não sei o que aconteceu, mas ela e seu grupo sumiram e não voltamos a cruzar com eles.
Durante os trajetos, Sérgio transitava entre história grega, romana, francesa e sacra com uma desenvoltura impressionante. Nada de papéis, anotações ou coisas do gênero. Não nos guiou: contou-nos histórias, ilustradas pelo acervo dos locais, com uma das melhores narrações que já vimos. Para nós, foi a figura mais impressionante dessa viagem.

sexta-feira, 18 de março de 2011

Brasileiras e brasileiros...

Não há onde não se encontrem os nativos da Terra Brasilis. É uma horda que toma de assalto todos os lugares por onde se passa, com sua tradicional alegria (que os europeus chamam de baderna) e seu jeitinho (para o qual sequer existe tradução por aqui). Museus, pontos turísticos, restaurantes, cafés, metrô, quando menos se espera entra um bando de gente rindo e falando alto: são eles! Aliás, somos nós também!!!
Mas nem só de turistas brasileiros vive essa invasão. Ela também acontece patrocinada por aqueles que vieram para ficar. Também estão por toda a parte. Por isso, não estranhe se, ao caminhar pela Champs Elyseés, de repente tiver a impressão de estar no Pelourinho: são eles!!!


Tudo pode melhorar!


As crianças de todas as idades desciam rindo sem parar do elevador da Torre Eiffel, como se estivessem voltando do recreio na escola. Caminhamos em direção ao ônibus que já nos aguardava, desviando dos ambulantes que fazem um corredor polonês na saída tentando vender toda a espécie de bugigangas. 


Já chamou a atenção que todos eles são negros, talvez oriundos dos países de colonização francesa na África. Segundo nosso guia, formam uma sub-sociedade, que tem regras próprias e vendem sub-produtos para sobreviver (trocadilho infame, mas real).

O ônibus nos deixou no cais do Bateau Mouche. Deste local saem os melhores e os mais luxuosos passeios pelo Rio Sena. Vamos fazer um tour noturno de aproximadamente 1h15min conhecido como Luzes da Cidade.
Ainda atracados, somos brindados com o primeiro show: as luzes da Eiffel sendo ligadas, aos poucos, até se transformar numa escultura brilhante na noite parisiense. No caminho, prédios, pontes, arcos, nos mostram porque Paris tem o apelido de Cidade Luz.


A visão de Paris a partir do Sena nos mostra uma nova face da cidade. De um ponto de vista mais baixo, com os prédios e monumentos iluminados de forma a emprestar-lhes um  ar de grandiosidade, a visão de Paris passa a ser deslumbrante. Mas mesmo neste caso há um cuidado notável: não há prédios em profusão feéricamente iluminados. As obras de arte e arquitetura que recebem esse tratamento são circundadas por prédios de iluminação normal, fazendo um contraponto de destaque e muito bom gosto.   
Nosso passeio é bico seco, com direito só a olhar. Mais tarde haverá passeios de outras embarcações com música ao vivo, jantar a luz de velas e cardápio requintado, onde só embarcam mulheres de vestidos glamourosos e homens de terno e gravata, trazidos em carros de luxo de seus hotéis ou residências. Preços módicos, a partir de 195 euros. Por pessoa. Mais o molha-mão do maitre por um bom lugar. Mais tax do garçom, de 15%. Mais a gorjeta do motorista. E sei lá mais o quê. Quem pode, pode mais em Paris!

Programa de Turista


Todas as pessoas que vem fazer turismo em Paris tem a obrigação moral de fazer duas coisas: visitar o Louvre e a Torre Eiffel. O primeiro até pode ser dispensado, afinal você pode ser um asno endinheirado que veio a Paris apenas para comprar perfumes (o que não é proibido!) e contar aos amigos onde andou. Mas subir a Torre Eiffel... ah, isso é obrigatório meeesmo. Assim, lá vamos nós subir na torre (Que medaaa!!!).


 O acesso: um sufoco


O acesso é permitido até a segunda plataforma, a 120 metros de altura, levados por elevadores de dois andares (um em cada perna da estrutura) onde acomodam-se (ou apertam-se) 50 pessoas de cada vez. A segurança do acesso é rígida e nosso tempo de espera, da entrada até embarcarmos no elevador, é de aproximadamente meia hora, porque novamente estamos em um grupo com acesso reservado. Normalmente demora-se até duas horas para entrar, ao custo de 10 euros. O elevador leva menos de dois minutos até a plataforma.     

Elevador apertado!!

Ponha a mão no queixo, empurre para cima e feche a boca. Sim, você está diante da maior obra-prima executada pelo homem: a cidade de Paris. O espetáculo é grandioso. Além de linda, a cidade teve o cuidado de preservar seus prédios centenários e exigiu dos arquitetos que mantivessem um padrão construtivo similar. Só há edifícios acima de 4 ou 5 pavimentos no centro comercial e financeiro da cidade, uma espécie de downtown francês. O resto parece uma patchwork, uma colcha de retalhos em tons que vão do branco e bege até o castanho e terra, pincelados aqui e ali por pequenos toques coloridos e rasgos verdes e azuis das praças, fontes e do Sena.

Perfeição: a mais bela mulher e a mais bela paisagem

Fotos, fotos, fotos. Não há nada mais a pensar. As máquinas estalam sem parar, numa sinfonia que lembra a chegada de um favorito ao Oscar no dia da entrega do prêmio, pisando o tapete vermelho. É isso: Paris, O Filme ganhou todos os nossos Oscars. Melhor fotografia, melhor figurino, efeitos especiais, locação, direção e sei mais lá o quê. Confesso que sempre torci o nariz para essa cidade, metida a besta e com seus arrogantes e mal-educados habitantes. Mal-educados não se admite, embora conviver com esse bando de turistas tresloucados não deva ser tarefa fácil. Mas acho que entendi a arrogância. Não se vive num lugar destes impunemente.

A cidade não só tem monumentos. Ela É um monumento!

As obras não têm a exatidão perfeita da máquina, ao contrário, tem a imperfeição da mão humana, o que lhes confere uma vida e uma beleza ímpar. Humildemente, confesso que me apaixonei. E uma lágrima de emoção rolou na face desse velho que achava que já tinha visto tudo. Mas enfim, tem melhor lugar no mundo para se apaixonar do que no alto da Torre de Paris?   

Uma vista de tirar o fôlego!

Montmartre: mais perto do céu.


Após o almoço nos deslocamos até Montmartre para visitar a Catedral de Sacre Coeur, o Sagrado Coração. O tempo fechou bastante e o frio aumentou. Não se chega até a catedral de ônibus. Somos deixados ao pé do monte, de onde empreendemos uma caminhada de aproximadamente 20 minutos até o topo. As ruas são estreitas, ígremes, com casas no alinhamento da calçada, deixando passeios também estreitos. Há muita gente visitando o local e, diferentemente de Versailles e seus enormes jardins, os espaços são exíguos, o que torna tudo mais complicado. Para ajudar, começou uma garoa fina, daquelas que avisam não ter hora para acabar. Diferentemente dos outros locais, somos avisados que o interior da catedral não pode ser filmado nem fotografado, o que pareceu estranho. Por que? Ao ingressarmos no templo descobrimos porque: praticamente sem iluminação natural, com pouca luz artificial, o ambiente é pesado, quase sinistro. Há muita gente orando na nave principal e nas várias capelas laterais. A falta de iluminação impede a filmagem e, se houvessem flashes, os frequentadores seriam perturbados em sua meditação. À entrada, um aviso do segurança, quase uma ameaça, dirigido a mim, com um sinal apontando para sua cabeça, dita em uma só palavra: respeito. Ele queria que eu tirasse o boné. Para todos, o mesmo sinal: o dedo sobre os lábios, uma ordem: silêncio. Foi muito interessante ver aquela multidão caminhando dentro da catedral, circundando a nave central completamente calada. No final da caminhada, ainda dentro da igreja, havia uma loja de souvenirs e quadros da visita do Papa João Paulo II ao local. Toda a ritualística, desde a subida pelas ladeiras, um ato de sacrifício, o tour pelo interior até a saída da catedral, um ato de contrição, deixaram a impressão de que tínhamos, de alguma forma, estado por alguns instantes mais perto do céu.



Versailles


O último dia de programação com nosso grupo iniciou com a visita ao Castelo de Versailles. Uma viagem de 35 minutos nos colocou em um mundo que, embora sabendo da existência, não conseguimos mensurar sua grandiosidade e opulência até nos encontrarmos com ele. Impressiona a grandeza de tudo o que vemos, principalmente se levarmos em conta o tempo dispendido em sua execução. Gerações sucessivas da realeza francesa revezaram-se na sua construção, cada um buscando dar maior valor e singularidade à sua contribuição. Embora o inverno europeu não nos brindasse com os jardins floridos de Versailles e obrigasse a administração do castelo a cobrir boa parte das esculturas externas de mármore, a área externa é de uma beleza e simetria que beira à perfeição. Hordas de turistas fazem filas que serpenteiam por dezenas de metros até a entrada. Temos a preferência por estarmos em um grupo com reservas, o que facilita muito o acesso. Dentro do castelo, uma primeira surpresa desagradável: a maioria das salas divide seu espaço com uma exposição de peças antigas das civilizações etrusca, babilônica, grega e mesopotâmica. Sobrou pouco espaço para a circulação dos visitantes, que são milhares. O resultado é uma visita apertada, lenta, com poucas chances de boas fotos (flash também é proibido aqui), salva mais uma vez por Sérgio, nosso guia que, enquanto nos dava mais uma aula, continuava no seu tom monocórdico informando como proceder e nos acalmando para melhor usufruir do passeio. A sucessão de salas com seus móveis (muitos réplicas, outros salvados do tempo e do vandalismo) esculturas e quadros fantásticos eram maravilhosas. Mas sem dúvida o grande diferencial do castelo são os afrescos. As pinturas nas paredes e no teto, bordadas por molduras de estuque ou madeira entalhada são de uma beleza indescritível e uma técnica apuradíssima. Saímos de Versailles com a impressão de que o homem sabe produzir arte e cultura e evoluir através dela. Não podemos deixar de refletir sobre o sofrimento que deve ter sido causado aos milhares de escravos que construíram aquele local, dos tantos que morreram nessa empreitada e de um sem número de artistas que dedicaram a vida inteira a esse trabalho. A beleza também cobra seu preço.

Aniversário


Passou batido na correria, mas nunca é tarde demais: nossa parceira de viagem e tradutora em Londres, a lindinha Carol, fez 15 anos em Paris. Très chic! A viagem foi o presente que ganhou dos pais (ainda não sabemos por que o Élcio e a Eliana vieram junto...) com direito a jantar num restaurant muito charmoso na Champs Elisées, depois de ganhar de presente do papai uma bolsa básica da Louis Vuilton de quase 500 euros. Claro que os Revoltados de Jurys Inn estavam todos lá e Carol teve direito inclusive a bolo com velinha. Parabéns prá ela, que merece, e para os pais, pessoas fantásticas e grandes parceiros nessa viagem.


terça-feira, 15 de março de 2011

O começo do fim


Hora de ir embora. O Novotel Paris Est foi ótimo e as acomodações muito confortáveis.



Arrumar as malas para voltar dá sempre uma sensação dúbia: ficamos entre uma vontade de quero mais e o desejo de dividir com a família e os amigos as impressões que colhemos ao longo desses dias. 

Separando as coisas, conferimos se não faltou nenhuma lembrancinha prá ninguém (porque os preços europeus não permitem mais do que isso, pelo menos para nós). O ruído característico do zíper da mala sendo fechada é o início do fim. Está na hora de voltar. Uma noite curta de sono nos espera, uma vez que seremos apanhados no hotel para o deslocamento ao aeroporto de Orly às 04h00min.

segunda-feira, 14 de março de 2011

Notre Dame!


Após o término de nossa visita ao Museu do Louvre fomos levados pelo nosso ônibus até a Praça da Prefeitura. Dali, nosso guia nos conduziu através da Rue de La Citté até a Catedral de Notre Dame. Em frente à catedral, há o Marco Zero de Paris, uma pequena placa de latão fundido incrustrada no pavimento. Conta a lenda que quem pisa no Marco Zero voltará a Paris. Não é preciso dizer que quando nosso guia informou isso houve uma correria para pisar no local.
O Marco Zero

 Sérgio, que já nos oferecera uma aula no Louvre, passou a demonstrar todo o seu conhecimento também em história e arte sacras. A Catedral é impressionante pelo tamanho, pelo trabalho de decoração (arcos, apliques e esculturas) e pelo arrojado sistema construtivo utilizado. Iniciada em 1163, nunca até então se havia tentado vencer um vão livre tão grande quanto o da sua nave central. Contra-pilares externos integrados com maestria ao conjunto da obra, de tal forma que são quase imperceptíveis, foram os responsáveis pelo sucesso da construção. Obras de arte aparecem por toda a parte, de esculturas a pinturas e afrescos. O Evangelho é contado através dessas obras em suas paredes, segundo a interpretação da Igreja Católica, destinados aos ignorantes de então, uma vez que à época a alfabetização era restrita à pouquíssimas pessoas de castas selecionadas.

A Catedral sofreu (literalmente) várias reformas e demolições durante sua existência, fruto das várias correntes de pensamento que cruzaram a sua história, como o culto ao Gótico, o Barroco e as idéias vanguardistas da Revolução Francesa e da Comuna de Paris. Apresenta hoje uma aura de misticismo e dignidade de quem viu e venceu a História.



domingo, 13 de março de 2011

Foi para isso que viemos até aqui!

Após o tour panorâmico da manhã de sexta, fomos almoçar em um local próximo ao museu do Louvre, nossa próxima parada. O que parecia uma praça de alimentação de shopping era na verdade um único restaurante, dividido em cinco cozinhas: francesa, japonesa, indiana, italiana e alemã, completados por excelente cafeteria. Lotado pelos freqüentadores do Louvre, o restaurante tinha pratos para todos os sabores e todos os bolsos. Optamos por cozinha japonesa, cozida, é claro.
O Museu do Louvre é um projeto impressionante, em construção há mais de 200 anos e sem data para acabar. Seu acervo é infindável. São quase vinte quilômetros de corredores frequentados por 8 milhões de pessoas por ano, de terça a domingo. O ingresso custa 10 euros, com serviços de guia (presencial ou multimídia) pagos à parte. Deficientes físicos e acompanhantes, crianças, grupos de estudantes, professores e desempregados não pagam. Todo o primeiro domingo do mês o acesso é gratuito ao público em geral. Promove temporadas de exposições de partes do próprio acervo e de peças cedidas a fim de aumentar as opções aos visitantes. Os franceses dizem que ir mensalmente ao museu é um passeio quase obrigatório, porque sempre há coisas novas a ver. O governo francês, juntamente com a administração do museu faz esforços financeiros consideráveis para resgatar peças históricas em poder de colecionadores e investir em novas instalações, visando qualificar seu espaço para melhor expor suas obras. É desnecessário enumerar as obras mais importantes do museu, isso já é domínio público. Mas não há como descrever a emoção frente a obras como a escultura A Vitória de Samotrácia, o maior quadro do museu, Les Noces de Cana de Veronese ou o fantástico Sacre de l’empereur Napoleon I et couronnement de l’impératrice Josephine dans La Cathédrale Notre-Dame de Paris, de Louis David.

Coroação da Imperatriz Josephine - riqueza de detalhes e muita intriga

As Bodas de Canaã - mais de 60m² de pura arte

A Vitória de Samotrácia - obra de mais de 2000 anos

É impossível tentar entender não só como esse acervo foi produzido, muito menos como conseguiu ser reunido, mas como este local foi construído e adaptado durante séculos exclusivamente para este fim. O Louvre já foi objeto de livros, publicações e teses de mestrado e doutorado no mundo inteiro. É muita prepotência tentar descrevê-lo num blog. A quem ousar desvendá-lo, fica uma sugestão: deixe de lado a racionalidade e leve consigo apenas a imaginação e a emoção. Ah, não esqueça de levar um mapa do local (nem pense em visitá-lo em um único dia), uma garrafa de água, usar um calçado confortável e muuuita disposição. Vai ser uma viagem indescritível e inesquecível. Para nós foi assim. 

sábado, 12 de março de 2011

Je ne parle pas français!

Cidade cinza

Nesta sexta, 11, saímos para nossa primeira incursão por Paris. No início, só alegria. Primeiro, um passeio panorâmico pela cidade, que nos trouxe uma comparação inevitável: enquanto Londres era uma cidade, organizada, limpa e beirando à perfeição urbanística, Paris é suja, pixada, com moradores de rua, vendedores ambulantes e pedintes por toda a parte.
O transporte público parece bom. Vamos conferir.


Poluição era uma coisa que imaginava extinta da Europa.

Mas quando chegamos ao seu centro histórico, as coisas mudam. Os prédios são bem cuidados e/ou restaurados, não há pixações ou pedintes, um procedimento que nos faz pensar que mesmo quem despreza o patrimônio público ou alheio respeita a história de sua cidade e seu país. A partir daí o encanto é total. Jardins, parques, monumentos, tudo é de uma beleza e plasticidade impressionantes. Convivem harmonicamente estruturas de mais de mil anos ladeadas por obras futuristas saídas de pranchetas sem o menor compromisso com o passado. O sincretismo visual de Paris é, a um só tempo, instigante e conquistador.  

As ruas do centro histórico até são cuidadas


Os prédios tem atenção especial