terça-feira, 6 de março de 2018

Retiro dos Padres



Na metade do século XIX, um navio inglês ficou avariado em uma praia paradisíaca do litoral catarinense. O fato atiçou a curiosidade dos moradores, que acorriam ao local para ver o navio e seus tripulantes, pois nunca haviam visto um inglês autêntico. A partir deste acontecimento, a praia ficou conhecida como Praia dos Ingleses. Em 1967, a praia foi adquirida pelos padres salesianos de Itajaí, que construíram uma casa de retiro espiritual, razão para o novo batismo da praia - Retiro dos Padres. Desde então, apenas os aventureiros chegavam até a praia, devido aos seu acesso precário. Com o tempo, o progresso se encarregou de pavimentar o caminho, e hoje o local é um refúgio a quem busca fugir da badalação de Bombinhas.
Chegamos achando que a beleza natural era o grande diferencial do local. Ao buscarmos algo para comer, fomos abordados por uma figura simpática, com sotaque maranhense (que - pecado mortal - não perguntamos o nome), fazendo as vezes de garçom, oferecendo um cardápio com opções diferentes do convencional para o local: frutos do mar com preparos interessantes, acompanhamentos inusitados e montagens insólitas.

Um local simples, sem decoração, onde a limpeza e a atenção do pessoal era a tônica. Optamos por participar dessa experiência - filés de linguado, servidos com molho de manga e canela, acompanhado de lascas de maçã, arroz com ervas e um pirão de peixe com "tempero secreto", exclusividade do cozinheiro, segundo o garçom.

Um verdadeiro manjar dos deuses! Findo o banquete, corri para a cozinha: precisava conhecer esse cara.

Chef Atílio era uma figuraça: dezesseis anos comandando panelas, criador de um sem número de pratos para as mais diversas cozinhas, se encontrara ali, cozinhando no Restaurante Retiro dos Padres. Com ingredientes frescos à disposição. Atílio esbanjava talento, bom humor e felicidade. Isso trabalhando das sete à meia noite, seis dias por semana. Afinal, concluiu, um dia tem que ser da família! Lembrou-me do mantra de um professor de Química da minha juventude: se você não quiser trabalhar, faça o que você gosta. Você nunca mais vai trabalhar na vida! Chef Atílio não trabalha mais, faz tempo, das sete à meia noite!

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